Bem Vindos/as!

Tire os sapatos, fique a vontade...a casa é sua!
Rodas de conversas sobre política, educação, trabalho, movimentos sociais a partir de uma perspectiva local e regional...
Espaço de prosa, poesia e, sobretudo, de diálogo perpassado pelo respeito e pela acolhida aos múltiplos olhares, pois como lembra Leonardo Boff, "todo ponto de vista é apenas a vista de um ponto".

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre escola, família e cidadania! (Endereçado aos amantes da educação e da cidadania)


Foi legal participar daquela reunião na escola de meu filho. Era uma oportunidade para estar na outra margem do rio, já que, pela primeira vez, participaria de uma dessas reuniões na condição de pai. Minha primeira surpresa: o auditório estava lotado, apinhado de gente, como dizemos aqui no sertão. Coisa bonita de ver, não só eram mães não, eram muitos pais, alguns, inclusive, trazendo nas vestes sinais de que tinham vindo direto de seus locais de trabalho. Aquela multidão toda, ali reunida, atendendo ao chamado da diretora e das professoras, já deixava claro, com sua presença, que a escola tem sentido e que é algo importante. As famílias confiam na escola; pais e mães acreditam mesmo que esta instituição realmente prepara seus filhos para a vida, para enfrentar um mundo sempre mais mudado, quando comparado ao mundo que muitos deles enfrentaram. Antigamente bastava saber ler e escrever pouquinho, agora não, tem que estudar,  fazer faculdade, usar anel no dedo. O antigo discurso acadêmico na boca do povo: a escola, velha instituição, quase tão velha quando o Deus cristão e que, igual a este, ainda é apresentada como a Salvação do Mundo! Voltemos à reunião. As professoras todas de frente para os pais, juntamente com a diretora e também a coordenadora pedagógica.  A velha estrutura, já tão denunciada por Paulo Freire e seguidores, reproduzida:  a escola (professores, diretora e coordenação pedagógica) ocupando de maneira cômoda o lugar do saber, do falo, da palavra, do poder enfim. A família, no lugar do não-saber, dos que não tendo nada [importante] para dizer, devem apenas escutar e ver. E haja slides e mais slides, todos eles muito bem preparados e recheados de teses sobre a importância da relação família-escola e de bons conselhos para os pais e mães. Entre um slide e outro, um puxão de orelha em algum pai ou alguma mãe cujo comportamento, em algum momento, interferiu ou ameaçou interferir nos rumos da instituição. Fiquei matutando até que ponto a escola quer mesmo a presença da família. Ali estava a resposta. Tal qual o aluno, família desejada, amada e bem tratada pela escola é família comportada, família que cumpre, sem questionar, “os deveres da escola”; família que não pergunta, não questiona, apenas escuta e diz amém. E é assim que, participando de  rituais desse tipo, toda a família vai aprendendo uma espécie de cidadania pervertida e a escola vai cumprindo seu importante papel de manutenção e legitimação das estruturas de poder vigente, mediante o embrutecimento e o silenciamento das pessoas.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Por uma Política de "menos favor" e de "mais direitos" (Endereçado, especialmente aos leitores tavarenses)


Acabo de ler no jornal Correio do Brasil que, segundo especialistas entrevistados pela Agência Brasil, “a função do vereador está desvirtuada”. Função desvirtuada é função que perdeu o rumo, a virtude, o norte; diz-se ainda aquela função que não tem mais o vigor ou a eficácia de outrora, remetendo a uma disfunção. Função desvirtuada é função corrompida, destorcida, isto é, de algo que foi criado, instituído, planejado para cumprir tal e tal tarefa, e que, no entanto, se desvirtuou, ou seja, já não exerce mais as funções que deveria exercer. É nesse sentido que devemos entender a afirmativa de que no Brasil, “a função do vereador está desvirtuada”.  Mas que função é esta?
De acordo com os códigos legais, especialmente a Constituição Federal, o parlamento tem duas principais funções, quais sejam:
1) Elaborar e aprovar as leis que regem o país (Assembléia de Deputados e Senado), os Estados (Assembleia de deputados) e/ou municípios (Câmara de vereadores);
2) Fiscalizar os atos do executivo.
Ambas as funções devem ser exercida em nome da coletividade e concorrerem para o bem público. Assim, quando elaboram ou aprovam projetos de leis, os vereadores devem pensar e defender os interesses de seus representados. Já na função de fiscalizadores, os vereadores não apenas fiscalizam a administração dos recursos públicos e os atos do executivo (prefeito/prefeita), mas acompanham também o desenvolvimento dos vários setores da administração: saúde, educação, assistência, agricultura etc.
Se observarmos atentamente os atos de nossos representantes legislativos (vereadores) chegaremos facilmente à conclusão de que, em sua grande maioria, eles fazem quase tudo, menos aquilo que lhes compete.  Pensemos, por exemplo, no dia-a-dia do legislativo tavarense: quem de nós não já presenciou ou não soube de vereador/a distribuindo remédio; cestas básicas, fornecendo um carro para pegar ou levar parente para cidades maiores (para o aeroporto ou hospital), pagando consultas médicas para seus eleitores de fato ou potenciais? Embora sejam todas atitudes louváveis, pelo menos para os cristãos, na verdade são atitudes que eu classifico como perversas e intoleráveis quando assumidas por aqueles que deveriam estar em outros locais e exercendo outros papéis. 
Agindo dessa forma, mediante o feitiço da ajuda nossos ilustres representantes conseguem fazer a grande proeza de impedir o surgimento do cidadão  e da cidadã e, assim, ao invés de sujeitos de direitos temos a perpetuação da pobreza e da carência, de sujeitos eternamente dependentes das graças que brotam do coração de seus senhores.
Qual o vereador ou vereadora que agindo dessa forma terá interesse na emancipação do povo? Digo e repito: a maior parte de nosso legislativo atual e dos que se apresentaram como candidatos a câmara municipal,  jamais terá interesse em cumprir com sua função de elaborar/votar projetos de leis e fiscalizar a administração dos recursos públicos pelo executivo, pois a realização de tais funções significa saúde, educação, moradia, assistência de qualidade, lazer, cultura  etc. e tudo isso implica em que aquilo que até então era dado como dádiva, favor, presente, doação, apareça como direito e direito, diferentemente do favor, ninguém poderá cobrar na hora do voto. Que nós, eleitores, saibamos abrir mão dos favores para que possamos nos reconhecer e sermos reconhecidos como sujeitos de direitos. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre Política e Respeito (Endereçado, especialmente, aos leitores Tavarenses)


Encontrei entre as postagens de minha página do faceboock uma imagem na qual estava escrito: “a política passa, as amizades continuam”. Confesso que gostei da  frase e resolvi comentar.. Escrevi então que nesse tempo de política somos convocados a tomar partido, assumir posições, baseadas em nossos valores, ideias e ideais.  Não cabe ficar em cima do muro, indeciso, indecisa, pois não decidir também é uma forma de decidir. Não optar já é, dessa forma, uma opção.
Ser cidadão, cidadã, é participar, levantar as bandeiras pelas quais achamos que vale a pena lutar. Claro que por trás de muitas dessas bandeiras escondem-se interesses pessoais, pequeninos, mesquinhos, que revelam a pobreza de uma alma incapaz de acolher o coletivo, de se solidarizar com um projeto, uma ideia, um ideal que abarque mais do que a sua própria pessoa ou família, cito como exemplo, os que abraçam um partido, um candidato, uma candidata apenas pensando no que poderão usufruir antes ou depois da eleição: um emprego para si mesmo ou para algum familiar, uma gorjeta a título de ajuda (que nada mais é do que a mercantilização do voto), enfim, uma melhoria ou brinde qualquer...
Mas há também os que levantam uma bandeira pensando e sonhando um sonho maior: a boa administração da cidade, o combate à miséria, a utilização dos recursos públicos para a melhoria do bem-estar das pessoas, os serviços públicos (saúde, educação, assistência) funcionando de forma, minimamente decente etc.
Tomar partido, assumir uma posição política é, assim, um direito e um dever que assiste todo cidadão. No entanto, tudo isso pode e deve ser feito no respeito pelo ser humano, especialmente pelo outro que pensa diferente de nós. Dessa forma, urge pensar e viver o tempo da política  igualmente como tempo de respeito, valorização e defesa do direito de que o “outro” possa também ser e pensar diferente, isso independentemente desse “outro” ser ou não nosso amigo.  Nesse sentido concluo esta pequena reflexão, fazendo um trocadilho com a frase que lhe deu origem: “O tempo da política partidária passa, mas as pessoas continuam” e pessoas precisam, além de água e comida, de serem respeitadas.  E lembro inclusive as seguintes palavras de Voltaire: “posso não concordar com nenhuma de suas ideias, mas lutarei até o fim pelo seu direito de expressá-las”. 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sobre política e politicagem I (Endereçado, especialmente aos leitores Tavarenses)


Semana passada eu ouvi, da boca de uma amiga, cuja identidade deixo no anonimato, o fato de que seu filho teria sido abordado pela esposa de um candidato a vereador em nosso município, a qual teria perguntado como ele, na qualidade de universitário, “deixava de apoiar dois doutores”, para votar em candidatos pouco escolarizados. Por trás da inocente colocação dessa senhora esconde-se um velho preconceito contra os analfabetos ou menos escolarizado, aqueles que por falta de oportunidades não passaram, ou passaram apenas por pouco tempo, pelos bancos escolares. Trata-se, pois,  de um discurso etnocêntrico, marcado pela supervalorização do próprio grupo (os escolarizados/doutores) sustentada por uma desvalorização do diferente (no caso os que detêm menos títulos escolares/não doutores).
Como a maioria de vocês devem saber, eu não apoio os candidatos apresentados pelo atual gestor, no entanto, jamais deixarei de defendê-los de tal acusação uma vez que, o fato de não possuir um diploma escolar mais elevado, não torna alguém menos apto a ocupar um cargo público. Da mesma forma, não acho que o fato de “ser filho da terra”, torne alguém mais adequado para a administração pública. Se do lado dos que defendem os títulos escolares temos um discurso etnocêntrico, do outro lado, dos que defendem o argumento de “filhos da terra”, temos um discurso xenófobo, isto é, fundado na aversão aos “estrangeiros”, aos que “não são filhos da terra”. Esse tipo de argumento é perigoso, pois, em longo prazo, pode desembocar em práticas nazistas, como as que recentemente tem proliferado na Grécia, onde, desde a conquista de algumas vagas no parlamento pelo partido “Aurora Dourada” (Neonazista) os “estrangeiros” têm sido vítimas de várias agressões, conforme reportagens publicadas recentemente, inclusive nos sites da Veja e do jornal Correio do Brasil, dentre outros.
Meu argumento é que um gestor público não precisa, necessariamente, ser “doutor” ou mesmo “filho da terra”, tais qualidades são dispensadas, o que não deve ser dispensado mesmo é a seriedade, o compromisso com o povo, o comprometimento, o desejo de governar em benefício da coletividade e não em benefício próprio. Estas são algumas das credenciais que torna alguém apto para conquistar o meu, o seu, o nosso voto...  E são credenciais que se revelam já durante a campanha eleitoral; quem se utiliza de preconceito ou de xenofobia para angariar votos, não merece nossa confiança de eleitor.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Quatro motivos pelos quais apoio a coligação "Por uma Tavares melhor"


Se me perguntam porque apoio a coligação "Por uma Tavares melhor", respondo que "por quatro motivos". Quais são eles:
Primeiro - Porque como ficou claro no dia da convenção não somos um grupo de lagartixas, balançando docilmente as cabeças para "os chefes". Somos um grupo de pessoas, movidos pelo amor a nossa cidade e pelo desejo de que o espaço público seja administrado no interesse do bem comum e não apenas para uma pequena elite;
Segundo - Porque o grupo é constituído por vereadores que souberam e saberão colocar-se livremente em defesa dos interesses gerais; em defesa do patrimônio público e a favor de uma Tavares cada vez melhor; uma Tavares para todos e todas... Gente do calibre de Antônio Cândido, Heleno Almeida, Luiz Poeta e Socorrinha, que não venderam suas consciência nem traíram o compromisso assumido com o povo de Tavares;
Terceiro - Porque nós que formamos o grupo, deixamos claro para os candidatos o que esperamos deles e deixamos claro também até quando poderão contar como o nosso apoio. Realçamos em alto e bom tom, que não apoiamos nomes, mas um projeto que só tem sentido porque está sendo gestado coletivamente;
Quarto - Porque uma boa parte dos/as nossos/as candidatos e candidatas à câmara municipal são pessoas que abraçaram a política não por amor ao dinheiro, mas visando defender de forma intransigente os interesses públicos. Cito aqui o exemplo da candidata Fátima Marques (Fátima do Silvestre).

Pensando a política com Hannah Arent


Nunca simpatizei com a Ciência Política, ao contrário sempre fui fã da Filosofia Política. Apraz-me muito mais pensar a política no seu “dever ser” do que pensá-la em sua realidade concreta, naquilo que ela tem se tornado nas sociedades contemporâneas. Todavia, como não sou filósofo, ancoro-me na minha filósofa política preferida, a Hannah Arent. Buscando encontrar o real sentido da política, retorno, pelas mãos da Hannah, à Grécia antiga, anterior a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles, uma Grécia que não conhecia a idéia de eternidade e que, portanto, não tinha, os olhos e os corações voltados para uma outra vida, que para eles era privilégio apenas dos deuses, ou seja, só os deuses tinham o privilégio da eternidade. Diferentes dos deuses – eternos –, os homens seriam criaturas mortais, aqueles que estão passando pela terra. Além de serem mortais, os homens seriam igualmente diversos, plurais e, dessa forma, diferentes.  Ora, esta consciência da perenidade humana [o homem é aquele que perece], estava atrelada a uma busca visando tornar a passagem humana pela terra não apenas suportável, mas mesmo agradável o que demandava a construção, nessa terra, de um mundo humano, capaz, portanto, de nos acolher em nossa passagem. Por outro lado, não existindo, para os homens, uma outra vida, a única coisa que eles poderiam almejar era a imortalidade, que para os antigos significava nada mais do que ter conquistado a capacidade de continuar sendo lembrados mesmo depois da morte. Ora, não havia outra forma de conquistar tal imortalidade a não ser dizendo grandes coisas e fazendo grandes feitos. Podemos dizer que nesta frase resume-se o desejo dos antigos. Assim é que numa das cenas do filme Tróia, por exemplo, vemos a mãe de Aquiles lhes falar que se ele não lutar ao lado de Menelau, ele teria uma velhice feliz, seria amado por seus filhos e por seus netos, mas – pondera a personagem – “quando teus filhos e teus netos se forem, tua lembrança será esquecida na face da terra”.  Se – continua ela – porém, “fores para esta guerra, talvez não voltes, mas teus feitos serão cantados pelos poetas e tua vida será narrada pelos historiadores”.  Dividido, portanto, entre a opção de uma vida feliz, longa e bem vivida, mas de forma privada e uma vida pública, mesmo que breve, mas que lhe acena com a possibilidade da imortalidade – ser lembrado pelas gerações vindouras – Aquiles não hesita. O herói grego encarna o ideal grego. Para os antigos, a vida só tinha sentido, quando vivida no espaço público, pois era ai, neste espaço que, mediante os ditos e feitos, os homens revelavam suas potencialidades e singularidades. Uma vida vivida fora do espaço público era sentida como “privação”, daí o termo “vida privada”, privada de sentido. Mas, para ocupar o espaço público duas condições eram necessárias. A primeira era a propriedade, que não tinha o mesmo sentido de riqueza, mas que significava que a pessoa  possuía um lugar no mundo, tinha portanto laços com a polis, com a cidade, com o mundo e, por extensão, desejava fazer da polis, do lugar, do mundo, um espaço útil, bom e belo.  A segunda era a posse de escravos, símbolo de liberdade para o senhor, que mediante o trabalho dos mesmos, se emancipava das necessidades mais elementares da vida: a necessidade do corpo, do consumo de comida e de bebida, que era, assim, provida pelo trabalho dos escravos.  Vejam que interessante: só quando satisfeito os interesses pessoais e egoístas era que surgia o cidadão livre, apto, portanto, a cuidar dos negócios públicos uma vez que seus negócios particulares já estavam solucionados. Dessa forma, não haveria perigo da política e, consequentemente, do espaço público ser colocado a serviço de interesses privados.