Bem Vindos/as!

Tire os sapatos, fique a vontade...a casa é sua!
Rodas de conversas sobre política, educação, trabalho, movimentos sociais a partir de uma perspectiva local e regional...
Espaço de prosa, poesia e, sobretudo, de diálogo perpassado pelo respeito e pela acolhida aos múltiplos olhares, pois como lembra Leonardo Boff, "todo ponto de vista é apenas a vista de um ponto".

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sobrancelhas Pintadas!


"Só então me dei conta
de que o amor não é apenas fonte de felicidade
ou um jogo, mas parte da incessante tragédia da vida,
tanto sua eterna maldição quanto a força avassaladora
que lhe dá sentido".
                             Nadezhda Mandelstam.


Pelo menos até o dia do ocorrido, L.H. era um sujeito centrado, como todos os sujeitos centrados. Tal qual H.G[i]. ele também trazia suas inicias em sua velha carteira estragada, da qual ele tanto gostava. Aprendera a suportar o mundo, embora, no mundo, se sentisse como um peixe fora d’água; aprendera a suportar as pessoas com as quais convivia e para as quais tinha sempre um sorriso nos lábios e ternura no olhar... Aprendera, às duras penas e através de muitas lágrimas, a suportar a si mesmo. Já estava mesmo ficando bom nisso de suportar-se e suportar o insustentável peso do mundo. Quando tinha dez anos, seu pai o levou ao México e foi lá que um velho feiticeiro, por nome de Dom Juan  falou que “ela” viria. "Como um tsunami, sem aviso prévio", disse-lhe o velho. Muito tempo mais tarde, a cigana que leu sua mão não quis dizer o que viu, entregou-lhe o dinheiro de volta: “fique com seu dinheiro, moço... Não vale a pena contar tudo que vejo, não vale a pena sofrermos duas vezes”. Na noite anterior ao ocorrido, contrariando as palavras do antigo feiticeiro, ouviram-se o canto dos galos, antes da meia noite, coisa que para sua falecida avó era tida como mau presságio. A meia noite em ponto, todos os cães da cidade começaram a ladrar e a correr desesperadamente, mas para L.H. aquilo não passara de um incidente normal, desafiando a anormalidade do presente. Ao acordar, pela manhã, tomou o café de sempre, com pão quentinho e ovos frescos; escovou os dentes, beijou a esposa, deu bom dia ao vizinho, entrou apressadamente no carro. Durante o trajeto para o trabalho, errou duas vezes o caminho, o que definitivamente parecia fora de ordem. Na terceira rua, à esquerda, teve que frear rápido, para não atropelar um gato preto que atravessava a rua, correndo atrás de um camundongo que, no momento seguinte, enfiara-se no bueiro. Também ele entrou correndo no escritório, onde uma pilha de papéis esperava pacientemente sua assinatura, a qual ele colocava sempre com muito desvelo. No finalzinho da tarde, quando todos os funcionários iam embora, ele costumava ficar sozinho, e era então que entrava em contato com o que tinha feito de si mesmo. Foi no final daquele dia, quando L.H mirava o próprio interior que, sem ao menos bater na porta, “ela” entrou. “Procurava o Sr. K.”, sem sequer dar-se conta de que havia entrado no compartimento errado. Enquanto falava, seus olhos se encontraram com os de L.H fazendo-o sentir calafrios no corpo. Do resto encarregaram-se suas sobrancelhas pintadas e o pequeno sinal que trazia no rosto. Para L.H. foi tudo muito de repente, um instante: e de repente uma estrela cadente caia no mar; o mundo roía a seus pés, seus fantasmas todos lhe visitavam e, em sua alma, ondas gigantes se formaram. Ao longe se podia ouvir a voz de Caetano: “eu te quero só pra mim, (...) mimar você, nas quatros estações...” Com vertigens,  L.H. apegou-se a única janela que havia no compartimento e cujo vidro estava molhado pelas pequenas gotas d’água da chuva, que caia vagarosamente.


[i] Referência a personagem de Clarice Lispector.
 

sábado, 10 de novembro de 2012

Para que a política não passe: sobre a necessidade da participação popular!


A política passou! Confesso que estranho ao ouvir tal afirmação, muitas vezes, inclusive, da boca de pessoas com alto grau de exercício intelectual. Há na expressão uma confusão entre política e “período eleitoral”. Dessa forma, se o segundo, como o próprio nome indica é um fenômeno passageiro, periódico, com data de validade estabelecida, o primeiro – a política – é algo que só passará quando os seres humanos não mais existirem sobre a face da terra, uma vez que somos animais políticos, que é no espaço da política que os interesses dos diversos grupos se confrontam e que são tomadas as decisões que afetam a vida de cada um e de cada uma de nós.  Mas, por outro lado, fica claro que o uso da expressão não é gratuito, ou seja, há grupos e pessoas interessadas em que pensemos dessa forma, em que confundamos a política com o período eleitoral. Pois se no período eleitoral somos chamados a participar, pegar a bandeira, ir às ruas, nos reunirmos, discutirmos os rumos da campanha, acompanharmos, vibrarmos e ajudarmos os nossos candidatos e candidatas, passado o tempo da campanha, a tendência é que já não haja  tanto interesse nessa forma de participação popular direta.  Por um lado, muitos eleitos, que  na época da campanha incentivaram e souberam aproveitar a participação popular, passado o período eleitoral, tendem a não mais incentivar e mesmo “impedir” tal participação. Por outro lado há também grupos, grupelhos e pessoas interessadas em controlar os rumos das políticas públicas (saúde, educação, assistência, administração, obra, transportes etc.), para os quais a participação popular aparece como um obstáculo a tal controle. Também para esses grupos, a participação popular “fora do período eleitoral” ganha sinônimo de bagunça, intromissão e os que a propõem, com suas práticas e ações, correm  o risco de serem diabolizados. Para a sociedade civil, sobretudo, em sua face popular organizada (associações, clubes de mães, igrejas, organizações não governamentais etc.), bem como para os homens e mulheres de boa vontade, preocupados com o “andar da carruagem”, fica, no entanto, a responsabilidade e mesmo a missão inalienável de continuar organizando todos os segmentos sociais: mulheres, jovens, idosos, estudantes, trabalhadores, do campo e da cidade, na busca de influenciar os rumos da administração dos negócios públicos, afim de que esses negócios não sejam utilizados de forma privada, deixando de servirem ao bem estar de todos e servindo apenas aos interesses dos familiares e clientes dos eleitos. É hora da população, sobretudo dos setores organizados e mais marginalizados novamente se reunirem em torno da moralidade da coisa pública (chega de nepotismo), da transparência no uso dos recursos públicos, do fim da perseguição política, e, sobretudo pelo controle dos rumos da política pública. É a população que deve dizer o que deve ser feito com os recursos públicos, como o mesmo pode e deve ser utilizado, é a população que sofre na pele quem melhor conhece as necessidades. Os políticos são apenas representantes, administradores pagos e bem pagos (ouvi informação de que, no município de Tavares - tomado aqui como exemplo -  um vereador passará a ganhar mais de R$ 4.000,00; o vice prefeito, cerca de R$ 8.000,00 e o prefeito algo em torno de R$ 16.000,00) para servirem ao povo, são pois funcionários do povo, e se não sabem dessa verdade, devem ser educados pelo povo, para que dela tomem conhecimento. Como lembra Frei Beto, “direito é igual feijão, só vem na pressão”. Vivamos, pois, a política não apenas de forma passageira, num determinado período do ano, mas façamos dela uma prática cotidiana, pois só dessa forma, construiremos um lugar melhor, melhor para trabalhar, melhor para viver.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pelas mãos do Pequeno Príncipe e de Bauman ou sobre Facebook e amizades


Faz tempo que estou devendo este texto ao meu ex-aluno Felipe Diniz.  Pediu que eu falasse sobre a experiência do Facebook, sobre as implicações dessa experiência para as relações humanas. Agora que sentei para escrever sobre a temática, lembrei-me de Bauman, sociológico polonês radicado na Inglaterra, o qual do alto de seus oitenta e seis anos e dono de uma mente jovial comentou, durante entrevista, que um viciado do Facebook  havia se gabado por ter conseguido fazer quinhentos amigos no Facebook e em apenas um dia. Ao que Bauman retrucou que, nos seus oitenta e seis anos de vida, não conseguira fazer quinhentos amigos, enfatizando que quando falavam em “amigos”, embora a palavra seja a mesma, ele e seu interlocutor estavam a falar de algo distinto, diferente. Com efeito, ao falar “amigo” Bauman está a falar concomitantemente em relação de afeto, confiança e, sobretudo em laços tecidos entre os humanos com expectativas de durabilidade. O jeito como fala de amizade remete-nos a raposa e ao pequeno príncipe, personagens de Saint-Exupéry, ao famoso diálogo sobre o cativar, a amizade e os laços humanos. Permita-me transcrever parte do mesmo:
 “Que quer dizer cativar? – perguntou o pequeno príncipe.
- É uma coisa esquecida – disse a raposa – Significa criar laços.
- Criar laços? – Perguntou o principezinho.
- Exatamente – disse a raposa – Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem outros mil garotos. E eu não tenho necessidades de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás  para mim único no mundo e eu serei para ti única no mundo.
(...)
- A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. (...) Se tu queres um amigo, cativa-me.
- O que é preciso fazer ? – Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente – respondeu a raposa”.
Ao contrário da raposa, do pequeno príncipe, de Bauman e de Saint-Exupéry, o viciado do Facebook de que falou Bauman é filho da sociedade de consumo, dessa sociedade que aprendeu a comprar tudo pronto nas lojas, sociedade dos laços provisórios, líquidos, efêmeros, na qual o tempo de consumo, de fruição das coisas e mesmo das relações humanas não deve ultrapassar a duração de um clique. E com um simples clique faz-se de repente quinhentos amigos, os quais são instantaneamente descartados, também com um simples clique, desde que não comungue com nossas ideias, valores, ideais. Nessa sociedade do consumo queremos um amigo feito a nossa medida. Nada de amigos que questionem, provoquem, desafiem, se posicionem contrários a nossa opinião e comportamento. Na era do Facebook, fazer amigo é coisa fácil e descarta-los mais fácil ainda. Como se diz, basta clicar a tecla “delete” e pronto, agora não faz mais parte de nossos contatos, foi excluído, banido de nossa vista, segregado de nossa lista e isto sem que seja preciso inventar quaisquer desculpa. Como lembra Bauman, romper amizade olho no olho, corpo a corpo é sempre uma coisa muito difícil. Temos, não raramente, de inventar desculpas, as quais podem ser e quase sempre são rebatidas. Romper amizade cara a cara é sempre um processo muito doloroso, do qual a experiência do Facebook nos liberta. Pena que esta liberdade é conquista a um preço deveras muito alto, pois se, por um lado, o Facebook nos permite descartar rapidamente, por outro lado, nos tira a chance de termos relacionamentos verdadeiros, nos rouba o prazer de tecermos laços com outros, de construirmos relações de confiança. Ainda citando Bauman, é muito prazeroso ter alguém em quem confiar e pelo qual ou pela qual podemos fazer alguma coisa. Esse tipo de experiência  está excluída para milhões de viciados do Facebook, muitos dos quais não sabem sequer o que perderam, pois nunca tiveram a chance de vivenciar tal situação. Creio que o grande desafio que está colocado para nossas gerações e, sobretudo, para as gerações mais jovens é o resgate dos laços humanos, é a aprendizagem do criar e regar esses laços, reconhecendo, com a raposa, que só conhecemos bem as coisas e pessoas que cativamos. Podemos até conectar e desconectar com um clique, mas fazermos amigos, criamos laços, não é algo que consigamos  por meio de um simples clique, simplesmente porque, como disse a raposa, para cativar temos que ser paciente, sentarmos primeiro um pouco longe, permitir que o outro nos olhe com o canto do olho, e cada dia sentarmos mais perto.


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre escola, família e cidadania! (Endereçado aos amantes da educação e da cidadania)


Foi legal participar daquela reunião na escola de meu filho. Era uma oportunidade para estar na outra margem do rio, já que, pela primeira vez, participaria de uma dessas reuniões na condição de pai. Minha primeira surpresa: o auditório estava lotado, apinhado de gente, como dizemos aqui no sertão. Coisa bonita de ver, não só eram mães não, eram muitos pais, alguns, inclusive, trazendo nas vestes sinais de que tinham vindo direto de seus locais de trabalho. Aquela multidão toda, ali reunida, atendendo ao chamado da diretora e das professoras, já deixava claro, com sua presença, que a escola tem sentido e que é algo importante. As famílias confiam na escola; pais e mães acreditam mesmo que esta instituição realmente prepara seus filhos para a vida, para enfrentar um mundo sempre mais mudado, quando comparado ao mundo que muitos deles enfrentaram. Antigamente bastava saber ler e escrever pouquinho, agora não, tem que estudar,  fazer faculdade, usar anel no dedo. O antigo discurso acadêmico na boca do povo: a escola, velha instituição, quase tão velha quando o Deus cristão e que, igual a este, ainda é apresentada como a Salvação do Mundo! Voltemos à reunião. As professoras todas de frente para os pais, juntamente com a diretora e também a coordenadora pedagógica.  A velha estrutura, já tão denunciada por Paulo Freire e seguidores, reproduzida:  a escola (professores, diretora e coordenação pedagógica) ocupando de maneira cômoda o lugar do saber, do falo, da palavra, do poder enfim. A família, no lugar do não-saber, dos que não tendo nada [importante] para dizer, devem apenas escutar e ver. E haja slides e mais slides, todos eles muito bem preparados e recheados de teses sobre a importância da relação família-escola e de bons conselhos para os pais e mães. Entre um slide e outro, um puxão de orelha em algum pai ou alguma mãe cujo comportamento, em algum momento, interferiu ou ameaçou interferir nos rumos da instituição. Fiquei matutando até que ponto a escola quer mesmo a presença da família. Ali estava a resposta. Tal qual o aluno, família desejada, amada e bem tratada pela escola é família comportada, família que cumpre, sem questionar, “os deveres da escola”; família que não pergunta, não questiona, apenas escuta e diz amém. E é assim que, participando de  rituais desse tipo, toda a família vai aprendendo uma espécie de cidadania pervertida e a escola vai cumprindo seu importante papel de manutenção e legitimação das estruturas de poder vigente, mediante o embrutecimento e o silenciamento das pessoas.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Por uma Política de "menos favor" e de "mais direitos" (Endereçado, especialmente aos leitores tavarenses)


Acabo de ler no jornal Correio do Brasil que, segundo especialistas entrevistados pela Agência Brasil, “a função do vereador está desvirtuada”. Função desvirtuada é função que perdeu o rumo, a virtude, o norte; diz-se ainda aquela função que não tem mais o vigor ou a eficácia de outrora, remetendo a uma disfunção. Função desvirtuada é função corrompida, destorcida, isto é, de algo que foi criado, instituído, planejado para cumprir tal e tal tarefa, e que, no entanto, se desvirtuou, ou seja, já não exerce mais as funções que deveria exercer. É nesse sentido que devemos entender a afirmativa de que no Brasil, “a função do vereador está desvirtuada”.  Mas que função é esta?
De acordo com os códigos legais, especialmente a Constituição Federal, o parlamento tem duas principais funções, quais sejam:
1) Elaborar e aprovar as leis que regem o país (Assembléia de Deputados e Senado), os Estados (Assembleia de deputados) e/ou municípios (Câmara de vereadores);
2) Fiscalizar os atos do executivo.
Ambas as funções devem ser exercida em nome da coletividade e concorrerem para o bem público. Assim, quando elaboram ou aprovam projetos de leis, os vereadores devem pensar e defender os interesses de seus representados. Já na função de fiscalizadores, os vereadores não apenas fiscalizam a administração dos recursos públicos e os atos do executivo (prefeito/prefeita), mas acompanham também o desenvolvimento dos vários setores da administração: saúde, educação, assistência, agricultura etc.
Se observarmos atentamente os atos de nossos representantes legislativos (vereadores) chegaremos facilmente à conclusão de que, em sua grande maioria, eles fazem quase tudo, menos aquilo que lhes compete.  Pensemos, por exemplo, no dia-a-dia do legislativo tavarense: quem de nós não já presenciou ou não soube de vereador/a distribuindo remédio; cestas básicas, fornecendo um carro para pegar ou levar parente para cidades maiores (para o aeroporto ou hospital), pagando consultas médicas para seus eleitores de fato ou potenciais? Embora sejam todas atitudes louváveis, pelo menos para os cristãos, na verdade são atitudes que eu classifico como perversas e intoleráveis quando assumidas por aqueles que deveriam estar em outros locais e exercendo outros papéis. 
Agindo dessa forma, mediante o feitiço da ajuda nossos ilustres representantes conseguem fazer a grande proeza de impedir o surgimento do cidadão  e da cidadã e, assim, ao invés de sujeitos de direitos temos a perpetuação da pobreza e da carência, de sujeitos eternamente dependentes das graças que brotam do coração de seus senhores.
Qual o vereador ou vereadora que agindo dessa forma terá interesse na emancipação do povo? Digo e repito: a maior parte de nosso legislativo atual e dos que se apresentaram como candidatos a câmara municipal,  jamais terá interesse em cumprir com sua função de elaborar/votar projetos de leis e fiscalizar a administração dos recursos públicos pelo executivo, pois a realização de tais funções significa saúde, educação, moradia, assistência de qualidade, lazer, cultura  etc. e tudo isso implica em que aquilo que até então era dado como dádiva, favor, presente, doação, apareça como direito e direito, diferentemente do favor, ninguém poderá cobrar na hora do voto. Que nós, eleitores, saibamos abrir mão dos favores para que possamos nos reconhecer e sermos reconhecidos como sujeitos de direitos. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre Política e Respeito (Endereçado, especialmente, aos leitores Tavarenses)


Encontrei entre as postagens de minha página do faceboock uma imagem na qual estava escrito: “a política passa, as amizades continuam”. Confesso que gostei da  frase e resolvi comentar.. Escrevi então que nesse tempo de política somos convocados a tomar partido, assumir posições, baseadas em nossos valores, ideias e ideais.  Não cabe ficar em cima do muro, indeciso, indecisa, pois não decidir também é uma forma de decidir. Não optar já é, dessa forma, uma opção.
Ser cidadão, cidadã, é participar, levantar as bandeiras pelas quais achamos que vale a pena lutar. Claro que por trás de muitas dessas bandeiras escondem-se interesses pessoais, pequeninos, mesquinhos, que revelam a pobreza de uma alma incapaz de acolher o coletivo, de se solidarizar com um projeto, uma ideia, um ideal que abarque mais do que a sua própria pessoa ou família, cito como exemplo, os que abraçam um partido, um candidato, uma candidata apenas pensando no que poderão usufruir antes ou depois da eleição: um emprego para si mesmo ou para algum familiar, uma gorjeta a título de ajuda (que nada mais é do que a mercantilização do voto), enfim, uma melhoria ou brinde qualquer...
Mas há também os que levantam uma bandeira pensando e sonhando um sonho maior: a boa administração da cidade, o combate à miséria, a utilização dos recursos públicos para a melhoria do bem-estar das pessoas, os serviços públicos (saúde, educação, assistência) funcionando de forma, minimamente decente etc.
Tomar partido, assumir uma posição política é, assim, um direito e um dever que assiste todo cidadão. No entanto, tudo isso pode e deve ser feito no respeito pelo ser humano, especialmente pelo outro que pensa diferente de nós. Dessa forma, urge pensar e viver o tempo da política  igualmente como tempo de respeito, valorização e defesa do direito de que o “outro” possa também ser e pensar diferente, isso independentemente desse “outro” ser ou não nosso amigo.  Nesse sentido concluo esta pequena reflexão, fazendo um trocadilho com a frase que lhe deu origem: “O tempo da política partidária passa, mas as pessoas continuam” e pessoas precisam, além de água e comida, de serem respeitadas.  E lembro inclusive as seguintes palavras de Voltaire: “posso não concordar com nenhuma de suas ideias, mas lutarei até o fim pelo seu direito de expressá-las”. 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sobre política e politicagem I (Endereçado, especialmente aos leitores Tavarenses)


Semana passada eu ouvi, da boca de uma amiga, cuja identidade deixo no anonimato, o fato de que seu filho teria sido abordado pela esposa de um candidato a vereador em nosso município, a qual teria perguntado como ele, na qualidade de universitário, “deixava de apoiar dois doutores”, para votar em candidatos pouco escolarizados. Por trás da inocente colocação dessa senhora esconde-se um velho preconceito contra os analfabetos ou menos escolarizado, aqueles que por falta de oportunidades não passaram, ou passaram apenas por pouco tempo, pelos bancos escolares. Trata-se, pois,  de um discurso etnocêntrico, marcado pela supervalorização do próprio grupo (os escolarizados/doutores) sustentada por uma desvalorização do diferente (no caso os que detêm menos títulos escolares/não doutores).
Como a maioria de vocês devem saber, eu não apoio os candidatos apresentados pelo atual gestor, no entanto, jamais deixarei de defendê-los de tal acusação uma vez que, o fato de não possuir um diploma escolar mais elevado, não torna alguém menos apto a ocupar um cargo público. Da mesma forma, não acho que o fato de “ser filho da terra”, torne alguém mais adequado para a administração pública. Se do lado dos que defendem os títulos escolares temos um discurso etnocêntrico, do outro lado, dos que defendem o argumento de “filhos da terra”, temos um discurso xenófobo, isto é, fundado na aversão aos “estrangeiros”, aos que “não são filhos da terra”. Esse tipo de argumento é perigoso, pois, em longo prazo, pode desembocar em práticas nazistas, como as que recentemente tem proliferado na Grécia, onde, desde a conquista de algumas vagas no parlamento pelo partido “Aurora Dourada” (Neonazista) os “estrangeiros” têm sido vítimas de várias agressões, conforme reportagens publicadas recentemente, inclusive nos sites da Veja e do jornal Correio do Brasil, dentre outros.
Meu argumento é que um gestor público não precisa, necessariamente, ser “doutor” ou mesmo “filho da terra”, tais qualidades são dispensadas, o que não deve ser dispensado mesmo é a seriedade, o compromisso com o povo, o comprometimento, o desejo de governar em benefício da coletividade e não em benefício próprio. Estas são algumas das credenciais que torna alguém apto para conquistar o meu, o seu, o nosso voto...  E são credenciais que se revelam já durante a campanha eleitoral; quem se utiliza de preconceito ou de xenofobia para angariar votos, não merece nossa confiança de eleitor.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Quatro motivos pelos quais apoio a coligação "Por uma Tavares melhor"


Se me perguntam porque apoio a coligação "Por uma Tavares melhor", respondo que "por quatro motivos". Quais são eles:
Primeiro - Porque como ficou claro no dia da convenção não somos um grupo de lagartixas, balançando docilmente as cabeças para "os chefes". Somos um grupo de pessoas, movidos pelo amor a nossa cidade e pelo desejo de que o espaço público seja administrado no interesse do bem comum e não apenas para uma pequena elite;
Segundo - Porque o grupo é constituído por vereadores que souberam e saberão colocar-se livremente em defesa dos interesses gerais; em defesa do patrimônio público e a favor de uma Tavares cada vez melhor; uma Tavares para todos e todas... Gente do calibre de Antônio Cândido, Heleno Almeida, Luiz Poeta e Socorrinha, que não venderam suas consciência nem traíram o compromisso assumido com o povo de Tavares;
Terceiro - Porque nós que formamos o grupo, deixamos claro para os candidatos o que esperamos deles e deixamos claro também até quando poderão contar como o nosso apoio. Realçamos em alto e bom tom, que não apoiamos nomes, mas um projeto que só tem sentido porque está sendo gestado coletivamente;
Quarto - Porque uma boa parte dos/as nossos/as candidatos e candidatas à câmara municipal são pessoas que abraçaram a política não por amor ao dinheiro, mas visando defender de forma intransigente os interesses públicos. Cito aqui o exemplo da candidata Fátima Marques (Fátima do Silvestre).

Pensando a política com Hannah Arent


Nunca simpatizei com a Ciência Política, ao contrário sempre fui fã da Filosofia Política. Apraz-me muito mais pensar a política no seu “dever ser” do que pensá-la em sua realidade concreta, naquilo que ela tem se tornado nas sociedades contemporâneas. Todavia, como não sou filósofo, ancoro-me na minha filósofa política preferida, a Hannah Arent. Buscando encontrar o real sentido da política, retorno, pelas mãos da Hannah, à Grécia antiga, anterior a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles, uma Grécia que não conhecia a idéia de eternidade e que, portanto, não tinha, os olhos e os corações voltados para uma outra vida, que para eles era privilégio apenas dos deuses, ou seja, só os deuses tinham o privilégio da eternidade. Diferentes dos deuses – eternos –, os homens seriam criaturas mortais, aqueles que estão passando pela terra. Além de serem mortais, os homens seriam igualmente diversos, plurais e, dessa forma, diferentes.  Ora, esta consciência da perenidade humana [o homem é aquele que perece], estava atrelada a uma busca visando tornar a passagem humana pela terra não apenas suportável, mas mesmo agradável o que demandava a construção, nessa terra, de um mundo humano, capaz, portanto, de nos acolher em nossa passagem. Por outro lado, não existindo, para os homens, uma outra vida, a única coisa que eles poderiam almejar era a imortalidade, que para os antigos significava nada mais do que ter conquistado a capacidade de continuar sendo lembrados mesmo depois da morte. Ora, não havia outra forma de conquistar tal imortalidade a não ser dizendo grandes coisas e fazendo grandes feitos. Podemos dizer que nesta frase resume-se o desejo dos antigos. Assim é que numa das cenas do filme Tróia, por exemplo, vemos a mãe de Aquiles lhes falar que se ele não lutar ao lado de Menelau, ele teria uma velhice feliz, seria amado por seus filhos e por seus netos, mas – pondera a personagem – “quando teus filhos e teus netos se forem, tua lembrança será esquecida na face da terra”.  Se – continua ela – porém, “fores para esta guerra, talvez não voltes, mas teus feitos serão cantados pelos poetas e tua vida será narrada pelos historiadores”.  Dividido, portanto, entre a opção de uma vida feliz, longa e bem vivida, mas de forma privada e uma vida pública, mesmo que breve, mas que lhe acena com a possibilidade da imortalidade – ser lembrado pelas gerações vindouras – Aquiles não hesita. O herói grego encarna o ideal grego. Para os antigos, a vida só tinha sentido, quando vivida no espaço público, pois era ai, neste espaço que, mediante os ditos e feitos, os homens revelavam suas potencialidades e singularidades. Uma vida vivida fora do espaço público era sentida como “privação”, daí o termo “vida privada”, privada de sentido. Mas, para ocupar o espaço público duas condições eram necessárias. A primeira era a propriedade, que não tinha o mesmo sentido de riqueza, mas que significava que a pessoa  possuía um lugar no mundo, tinha portanto laços com a polis, com a cidade, com o mundo e, por extensão, desejava fazer da polis, do lugar, do mundo, um espaço útil, bom e belo.  A segunda era a posse de escravos, símbolo de liberdade para o senhor, que mediante o trabalho dos mesmos, se emancipava das necessidades mais elementares da vida: a necessidade do corpo, do consumo de comida e de bebida, que era, assim, provida pelo trabalho dos escravos.  Vejam que interessante: só quando satisfeito os interesses pessoais e egoístas era que surgia o cidadão livre, apto, portanto, a cuidar dos negócios públicos uma vez que seus negócios particulares já estavam solucionados. Dessa forma, não haveria perigo da política e, consequentemente, do espaço público ser colocado a serviço de interesses privados.