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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre escola, família e cidadania! (Endereçado aos amantes da educação e da cidadania)


Foi legal participar daquela reunião na escola de meu filho. Era uma oportunidade para estar na outra margem do rio, já que, pela primeira vez, participaria de uma dessas reuniões na condição de pai. Minha primeira surpresa: o auditório estava lotado, apinhado de gente, como dizemos aqui no sertão. Coisa bonita de ver, não só eram mães não, eram muitos pais, alguns, inclusive, trazendo nas vestes sinais de que tinham vindo direto de seus locais de trabalho. Aquela multidão toda, ali reunida, atendendo ao chamado da diretora e das professoras, já deixava claro, com sua presença, que a escola tem sentido e que é algo importante. As famílias confiam na escola; pais e mães acreditam mesmo que esta instituição realmente prepara seus filhos para a vida, para enfrentar um mundo sempre mais mudado, quando comparado ao mundo que muitos deles enfrentaram. Antigamente bastava saber ler e escrever pouquinho, agora não, tem que estudar,  fazer faculdade, usar anel no dedo. O antigo discurso acadêmico na boca do povo: a escola, velha instituição, quase tão velha quando o Deus cristão e que, igual a este, ainda é apresentada como a Salvação do Mundo! Voltemos à reunião. As professoras todas de frente para os pais, juntamente com a diretora e também a coordenadora pedagógica.  A velha estrutura, já tão denunciada por Paulo Freire e seguidores, reproduzida:  a escola (professores, diretora e coordenação pedagógica) ocupando de maneira cômoda o lugar do saber, do falo, da palavra, do poder enfim. A família, no lugar do não-saber, dos que não tendo nada [importante] para dizer, devem apenas escutar e ver. E haja slides e mais slides, todos eles muito bem preparados e recheados de teses sobre a importância da relação família-escola e de bons conselhos para os pais e mães. Entre um slide e outro, um puxão de orelha em algum pai ou alguma mãe cujo comportamento, em algum momento, interferiu ou ameaçou interferir nos rumos da instituição. Fiquei matutando até que ponto a escola quer mesmo a presença da família. Ali estava a resposta. Tal qual o aluno, família desejada, amada e bem tratada pela escola é família comportada, família que cumpre, sem questionar, “os deveres da escola”; família que não pergunta, não questiona, apenas escuta e diz amém. E é assim que, participando de  rituais desse tipo, toda a família vai aprendendo uma espécie de cidadania pervertida e a escola vai cumprindo seu importante papel de manutenção e legitimação das estruturas de poder vigente, mediante o embrutecimento e o silenciamento das pessoas.

Um comentário:

  1. Pois é, caro Marcelo, durante muito tempo fiz parte dessa realidade, dos dois "lados do rio" seja como professora e psicóloga na escola, seja como mãe e agora avó. Pude observar nesses lugares a dificuldade dessa instituição tão endeusada em nossa sociedade e que continua através dos tempos, tratando como iguais aquilo que por natureza é diferente, e querendo perpetuar lugares de dominação. Historicamente de um lado os educadores, aqueles que sabem como educar os nossos rebentos, o que eles devem saber, o que eles devem pensar e como devem ser, quietinho, caladinho e bem comportados. Pena que os danadinhos, inquietos, perguntadores, ainda sejam os Trabalhosos da escola. Terão que fazer um movimento muito maior pra se constituirem adultos pensantes, abertos a modificações e donos de seus desejos, Que pena, por que muitas vezes esses trabalhosos da escola se perdem, se convencem que estão errados, se adaptam. Que pena, e tomara que possamos minimizar esse discurso cada vez mais.

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